Voltando um pouco sobre o AVC, quando fiquei sabendo que teria que fazer uma cirurgia, digamos que o doutor não falou de uma forma muito agradável (será que tem uma forma agradável de falar). Estava eu e minha esposa, fazendo a minha consulta a cada 2 meses com o neurologista, e levei junto o exame que tinha me pedido, a ressonância, no momento em que viu, o mesmo falou “nossa vai ter que fazer cirurgia, nossa vai ter sequela, eita esta do lado esquerdo ainda…”, nesse momento minha esposa perguntou “Doutor, mas que tipo de sequela?” o mesmo respondeu “pode ser que fique sem movimento do lado direito, fique mudo, cego…” enfim, depois o mesmo falou que se quisesse procurar um novo neurologista que eu ficasse a vontade, que ele achava bom que consultasse outros também, visto que era uma cirurgia de risco. Minha esposa saiu abalada, perguntei se queria passar nos pais dela para desabafar. Eu por outro lado, não sei porque, permaneci como se fosse normal, no momento já tinha lido inúmeros livros sobre o estoicismo, e acredito que isso me ajudou muito, tentei pensar o lado bom disso que acabei de saber.
A partir daquele momento, sabia que não tinha o que fazer, ou era chorar pensando “Por que eu?” ou encarar e pensar “Porque não eu?”, um simples modo de pensar, como um pequeno aprendiz de estoico, como dizia Epiteto “Se o problema possui solução, então não devemos nos preocupar com ele”, e isso é uma verdade, não temos controle sobre muita coisa, mas podemos mudar nossa mente, nosso modo de pensar, nosso modo de agir…e foi isso que fiz.
A partir daquele momento, comecei a pensar diferente, pensei, ok o que eu posso fazer caso após a cirurgia eu perca os movimentos do lado direito? Comecei a fazer as coisa cotidianas usando o lado esquerdo, escovar o dente, almoçar, lavar a louça…tudo me preparando para caso acontecesse, seria mais adaptável. Pensando de uma outra forma, mesmo se perdesse o movimento, do lado direito, isso realmente é um evento externo, não tenho controle, mas enquanto tiver a minha mente intacta, tenho controle sobre ela, posso me adaptar, assim como Epiteto, antigo estoico, que em boa parte de sua vida era um escravo e tinha pouca mobilidade de uma perna, e pelo que dizem, perdeu a mobilidade quando seu mestre quebrou a sua perna, e quando o estava fazendo ele permaneceu calmo, e com toda tranquilidade disse algo como “se continuar vai quebrar a minha perna”, e quebrou.
Infelizmente Epiteto não deixou nada escrito, mas um de seus alunos escrevia tudo o que ele falava. Acredito que Epiteto é um grande exemplo de superação, existem sim problemas novos, com novas soluções, mas acredito que existem problemas com soluções que não mudam, a mais de 2000 anos atrás ele viveu e eu tive muito o que aprender com ele, principalmente nesse época.
Recomendação
Obstaculo é o caminho – Ryan Holiday
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